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CONDUTORES E GUIAS

Contratação de guias - sim ou não

 

A lguns pesquisadores afirmam que tendemos a defender as ideias que nos favorecem.

Trabalho atualmente na Chapada dos Veadeiros como guia de turismo e por isso posso ser suspeito de falar sobre a contratação ou não de guias para os passeios. Contudo, antes de ser guia, já fui viajante por muito tempo e sei de cor todos o martírios que é viajar ser assediado por preços e pela sensação de não podermos nos defender contra todo o tipo de supervalorização de serviços.

A verdade é que toda a minha vivência como turista e como guia me ajudou hoje a ver as coisas de forma mais crítica, e esse texto é uma tentativa de fornecer boas informações para os visitantes da Chapada dos Veadeiros acerca dos serviços de guiagens, assim como preços, reflexões, etc.

Qual função de um guia nos passeios da Chapada ?

Oficialmente, a função de um guia ou condutor, na chapada do veadeiros é conduzir as pessoas de modo seguro pelas trilhas dos atrativos e enriquecer o tour  com quaisquer informações que julgue pertinente para melhorar a experiência.

 

Na maioria dos casos, a Chapada recebe poucos visitantes que procuram trilhas técnicas, passeios de longa distância e que exigem do seu condutor habilidades específicas nesses pontos. Tais guias existem, mas no geral a maioria dos nossos condutores se especializou em ser um (a)  guia de trilhas de 1 dia, com dificuldade baixa ou média. E suas melhores habilidades são prestar atenção nos cuidados básicos de uma caminhada incluindo clima, caminhos, tempo e socorros em geral. Os guias da região costumam ser muito bons em tornar a experiência do passeio agradável principalmente com informações.

Valores

O serviço de guias é amparado e regulado pelas associações de guia que existem em cada cidade. Há pelo menos duas espalhadas em cada uma delas. Assim, as associações não somente promovem e controlam os cursos de guia como também decidem sobre os valores básicos das diárias. Isso ajuda muito a evitar aquela guerra de especulações de preços e a manter um tipo de profissionalismo na atividade, com requisições técnicas mínimas. 

No geral as diárias mínimas de guiagem variam entre 120 reais a 200 reais para os passeios mais tradicionais. Para percursos mais específicos e técnicos não há valores mínimos estabelecidos.

 

 Outra informação imporante é que este valor é referente a grupos para até 6 pessoas. Ou seja, o valor será o mesmo para grupos de até 6. Para grupos maiores os condutores necessitam fazer acertos específicos ou até contratar mais um guia. As associações não permitem que um condutor guie mais de 8 pessoas, considerando que não será possível zelar devidamente de todo o grupo.

 Guias kalungas e passeios com obrigatoriedade de guias:

Para locais como Santa Bárbara e cachoeiras do Prata, em Cavalcante, a obrigatoriedade dos guias causa muita polêmica entre visitantes que vêem isso com bons olhos ou não. Há muito o que ser considerado sobre isso  e o tema renderia muitos textos como este. 

 

Somado a isso, temos a questões dos guias nativos das comunidades Kalungas. Tais guias pertencem a uma associação exclusiva Kalunga criada, mantida e gerida por representantes locais.  Muitas vezes tais condutores vivem na comunidades e oferecem preços um pouco mais baixos para poderem atrair os visitantes diretos para as comunidades (algo justo), além do fato de morarem por ali e poderem às vezes fazer mais de uma condução no mesmo dia ou de se deslocarem bem menos pelas estradas de chão até chegarem novamente em casa.

Um ponto positivo na contratação de guias nativos também é poder contribuir para o manejo local do ecoturismo na comunidade, atividade que se tornou uma importante fonte de renda na região. Um ponto negativo é que contratando dessa forma, nem sempre você saberá quem é o seu condutor e isso pode trazer algumas surpresas que você não gosta para o passeio. Digo isso porque vejo que há pessoas que procuram economia na hora de contratar um guia, outras realmente esperam comunicação, simpatia e prestatividade. E nem sempre essas podem ser as qualidades que você encontrará quando contrata algum condutor sem recomendação de alguém. No geral, não há questões graves registradas e todos os guias tentam ser o mais simpáticos possível com seus clientes, cada um à sua maneira.

Itens que podem aumentar o preço dos passeios:

 - Guiagens em que você irá no transporte do condutor ou guiagens em que o condutor deve se deslocar de moto.

(motivo: as estradas da região são bem duras com os automóveis, assim, na condução de um visitante usando o veículo particular do guia é incluído um preço por km rodado, considerando os preços da gasolina e do desgaste do veículo. Este procedimento é padrão em todo o mercado do ecoturismo)

- Passeios em que o condutor deve se deslocar de uma cidade a outra ou em que ele tenha de pernoitar.
 

(motivo: ao contrário de trabalhadores tradicionais, os guias não têm hora para terminar o turno e nem para começar. Guiagens em que é necessário se deslocar entre cidades podem chegar a marcas de 250 km rodados em um dia, e este desgaste é altamente sentido pelos profissionais do ramo - certamente mais até do que o desgaste físico. Basta reparar naquele cansaço que você sente quando volta de um passeio e imaginar que, no próximo dia este mesmo guia executará tudo de novo, na maioria das vezes sem almoço ou lanches, e isso gera um desgaste bem alto na rotina dos condutores).

 - Passeios fora dos roteiros tradicionais, principalmente onde há a necessidade de preparativos ou arranjos técnicos.

Trombas d’água e segurança na natureza:

Deixei este ponto por último por que julgo não ser muito apropriado refletir sobre a profissão de guia usando de argumentos amedrontadores, Contudo, não há que negue que este um dos principais pontos a serem discutidos neste tema.
 

Ao contrário de city tours, passeios na natureza oferecem potencias riscos que podem não ser controláveis e por isso o acompanhamento de alguém que já tenha uma mínima experiência e noção no local é altamente importante sim, principalmente para públicos que não tem ainda muito familiaridade com questões  “de mato e da mata”.
 

Não que os guias sejam todos aptos a sobreviver no Alaska e a fazer cabanas de palha com uma faca do Bere Grills, mas pequenas noções do lugar e principalmente familiaridade com a natureza local podem ser tornar essenciais para evitar problemas gigantescos às vezes.  Como:

. Se perder nas trilhas ou se perder nas estradas de terra, ficando sem a possibilidade de resgate.

(a maioria dos guias mantém contato com as suas associações e sabem acionar mecanismo de ajuda eficientes, e isso facilita muito)
 

 - Acidentes físicos em trilhas, torsões, alergias a insetos, afogamentos e trombas d´água (enchentes)
 

(pode parecer que não, mas depois de guiar por alguns anos você percebe que todos estamos sujeitos a acidentes que jamais esperaríamos e que a maioria deles poderia ser evitado se você tomasse medidas  mínimas de prevenção naquele momento. E esta é a sensibilidade que um guia adiciona ao passeio. Por vezes, uma simples tentativa de atravessar um córrego na parte escorregadia pode resultar em uma grave escoriação física. A maioria dos guias já passaram centenas de vezes por ali e sabem os caminhos das pedras como um padre sabe rezar a sua missa).

 

Enchentes:
 

Na época as chuvas,  os rios podem receber maciços volumes de água em um curto período de tempo, isso porque as chuvas podem cair nas cabeceiras do rio. O resultado é o aumento abrupto do volume da água e o impedimento de passagens da trilha. Menos comum que isso, porém  não menos perigoso, são as chamadas trombas d'água, quando os volumes da chuva escorrem rio abaixo e surpreendem os banhistas com ondas e arrastões de água.

BOA VIAGEM!!


                       

 

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