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UM SOBREVOO PELA CHAPADA

Neste texto você lê sobre:

  • HISTÓRIA, BIOLOGIA E MORFOLOGIA DA CHAPADA
     

  • CIDADES TURÍSTICAS
     

  • OPÇÕES DE HOSPEDAGEM
     

  • OPÇÃO DE TRANSPORTE

A chapada dos veadeiros é para muitos de nós aqui, que visitamos esse site, um fenômeno turístico. Montanhas, cachoeiras nas quais podemos fazer lindas selfies, passeios para relaxar, etc. Contudo, há muito mais por aqui do que alcançam os olhos. Falo de inúmeras realidades dentro do fenômeno Chapada, e  estas vêm se sobrepondo há décadas ou até por milhares de anos para culminarem no que vemos hoje.

Para os moradores daqui, a Chapada (assim como todas as chapadas no Brasil) acabaram por se tornar um local de refúgio das intempéries sociais com que regamos nossas vidas metropolitanas: falta de tempo, falta de sentido, estresse, pouca ou quase nenhuma conexão com a natureza, e principalmente toneladas de pressão que recaem diariamente sobre nós em nossas profissões e na concorrência por um lugar ao Sol no mercado de trabalho

Aqui, para todos os que chegam, o patrimônio maior e sagrado é a chance de termos mais tempo para si, a chance de focarmos naquilo que julgamos ser importante para nossas vidas e para a vida coletiva. Claro que nem tudo é perfeito, mas no geral, migrantes que chegam na chapada optam por uma vida mais simples em termos de recursos materiais em troca de estados de desfrute de suas próprias ideias pessoais, desfrute de uma comunhão um pouco mais livre com a natureza e principalmente desfrute de mais tempo livre e disponibilidade para aprenderem seja lá o que há para ser aprendido  durante esse tempo aberto em que estamos vivos. Assim, cada um dos aqui estão vivendo aprendem a fazer florescer seus sonhos, a colocar a sua essência criativa em prática e a executar na prática aquilo que desejam em seus corações.

A paisagem, a cultura local
 

Fato é que o fenômeno turístico da Chapada dos Veadeiros começou há pouco menos de 40 anos quando, ao que sabemos, os primeiros moradores de fora (migrantes) mudaram-se para a região de Alto Paraíso em busca de formar uma vida em coletivo, trazendo consigo toda essa bagagem de espiritualidade de e desconstrução que por aqui paira. A beleza natural e supostas energias ampliadas do local serviram então para potencializar cada vez mais a visita e o deslumbre de passageiros e visitantes que quase sempre resolvem também ficar. O local acabou por se tornar turístico e agora, com as redes sociais, experimentamos um boom de visitações, cujas consequências cabe a nós sabermos quais serão no futuro.

Porém, assim como é de praxe fazerem os descobridores, tendemos a ignorar  o fato de que outros estavam aqui antes do turismo. Não podemos jamais esconder que aqui existiam antes e sempre os primeiros moradores locais. Ligados às essências primeiras dessas matas, aos segredos de serras e vales, aos mistérios de tudo, estavam os índios Avá Canoeiros e depois os africanos vítimas do processo de escravidão, cuja tradição veio a formar os povos autodenominados Kalungas.

 

A gênese da chapada está ligada a muitos fatores.

Muitos antes dos primeiros moradores, pesquisadores da Geologia informam que mares inundavam a região e, ainda antes dos mares, somos informados que os primeiros relevos sólidos da terra se formavam por aqui  há mais de 2 bilhões de anos. Assim, o solo sobre o qual se assenta a Chapada é considerado por muitos especialistas científicos como típico das morfologias mais antigas do mundo -  traço comum em quase todo o planalto central e outros planaltos da América do Sul. Nesses planaltos a erosão de bilhões de anos fez com que cordilheiras do porte de Alpes e Himalaias fossem desgastadas até resultarem em “planos altos”, ou simplesmente montanhas desgastadas até a sua base. Daí o termo Planalto.

          A profunda relação entre os seres e a ação do homem atualmente

Entre o homem e as rochas, entre os seres e as montanhas, ainda falta apontarmos outro elemento primordial da região: a vegetação a  qual nomeamos Cerrado.

 

Este “Bioma” é o que mais ocupa áreas no território brasileiro depois da floresta tropical amazônica. E apesar de tão extensa, a vegetação da Chapada é singular à sua maneira, assim como são singulares todas as criações da natureza.

Por estar localizada a altitudes não tão comuns no cerrado (acima de 1000 metros como é o caso de Alto Paraíso) o Cerrado Veadeiros guardou para os seus hóspedes muitas peculiaridades e segredos. Para forrar e cobrir um solo cheio de quartzo e rochas, a vegetação do local teve de se adaptar de forma completamente variada  ao longo do território que domina. Disso temos como resultado a formação de estruturas diferentes dentro do próprio cerrado: veredas, matas, gramíneas, flores, regos, rios, riachos, buritis... a lista de elementos exóticos é grande.

Olhe para qualquer canto e verá que há algo de exótico, diferente, singular ou pelo menos curioso no verde que nossos olhos tocam. Na majestosidade de uma Palmeira de Buriti ou até a microestrutura de uma flor do campo, o cerrado se faz desabrochar como mandalas que se expandem simetricamente a partir de um só centro: micro e macro universos. A variação de flores micro e macro pode ser facilmente percebida para os que andam em uma trilha, assim como a variação de cores das veredas, as manifestações policromáticas de frutos e folhas e de cascas de árvores .

Aos finais de tarde é possível se deslumbrar com a dança dourada dos capins que se inflamam no pôr do sol das veredas, lembrando as savanas da África.

Sensibilidade é o que nos é requerido para explorar cada detalhe desse lugar, e humildade o que nos é necessário para percebemos que sabemos muito pouco sobre a vida e sobre o infinito

 

As cidades turísticas

Até onde sei, o termo Chapada dos Veadeiros não é baseado em uma delimitação precisa. Ou seja, o nome turístico não vem acompanhado de um marco geográfico oficial e parece ter surgido à medida que a região foi se tornando turística ou visada por pesquisadores. Algumas caraterísticas geográficas e turísticas delimitam a área da chapada dos veadeiros. É antes uma Região, mas corresponde ás singularidades do local e reúne dentro de si pontos em comum na vegetação e na morfologia das áreas que abarca.

Algumas cidades fazem parte da Chapada dos Veadeiros, do ponto de vista turístico: São João da Aliança, Alto Paraíso de Goiás e sua vila de São Jorge, Colinas do Sul, Teresina de Goiás, Cavalcante e Monte Alegre de Goiás.

Para os visitantes do local que procuram dias de turismo três cidades parecem ser mais visadas pelo fato de aglomerarem grande parte das atrações e das cachoeiras aberas para visitação: Alto Paraíso de Goiás, São Jorge e Cavalcante. A distância entre estas três cidades não ultrapassa os 150 km em seus pontos mais distantes. Entre estes três municípios fica alojado o conhecido Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que serve de elo e verdadeira base vital para a essência desses três lugares. Ao entorno de cada uma das cidades, serras, serras, serras e mais serras escondem outras qualidades da região, sejam povoados nativos, sejam reservas minerais assediadas por grandes empresas, sejam santuários ecológicos e rios e vales hídricos.

 

A história, os índios e a cultura Kalunga:

 Ao que sabemos (e quase sempre pouco sabemos) todo o processo de fama da região começou a partir da exploração de garimpos de ouro na região, em meados do século XVIII, quando era fundada a vila de Cavalcante. Neste momento Alto Paraíso e São Jorge não existiam ainda como cidade, resumindo-se a fazendas ou regiões de garimpo como é o caso de São Jorge.

Datando dos tempos em que o Brasil ainda era regido por uma Monarquia, o ouro de Cavalcante era não somente lavrado e explorado por mão de obra escrava como também muito valorizado pela Coroa, que aparentemente vinha de tempos em tempos em visita oficial ao município para recolher suas barras fundidas e cunhá-las a selo real. A corrida do ouro foi iniciada décadas antes pelos conhecidos bandeirantes. Em terras Kalungas, segundo a sabedoria popular ainda é possível saber os locais de exploração de garimpo bandeirante.

 

 A mineração do ouro foi levada adiante por quase um século até que houvesse a dita libertação dos escravos pela Lei Áurea em 1888. Neste momento os trabalhadores negros escravizados tiveram a chance de se desvincularem de seus senhores e ganharam as matas, atravessando a barreira de serras e vales, para formarem os primeiros povoados de remanescentes quilombolas, dividindo regiões com os então conhecidos índios Avá Canoeiros. Sobre a relação de índios e quilombolas pouco sabemos oficialmente, mas é possível percebê-la nas lembranças dos moradores mais velhos da região e nas histórias locais, que relatam encontros emblemáticos com os índios.

Os hoje chamados quilombos se estenderam e se expandiram por uma imensa região, alcançado as fronteiras do que hoje é o estado do Tocantins, e ocupando regiões variadas, com povos e nomes variados, ao longo de uma área com quase 200 km de diâmetro e milhares de famílias. Estes são povos cuja tradição, cultura e identidade foi forjada na sua história reclusa para dentro das matas, sozinhos entre si, mesclando o misticismo católico com rituais étnico-africanos e tecnologias de sobrevivência indígenas. São atualmente os verdadeiros detentores das  antigas sabedorias das matas, dos sentido do Cerrado e aqueles que batizaram quase tudo o que conhecemos por aqui.

 

Já a história de Alto Paraíso e São Jorge é bem mais recente e  parecem ter começado ao longo das primeiras décadas do século XX. A vila de São Jorge, hoje totalmente turística, antes fora um verdadeiro garimpo de ouro e diamante. Garimpo no qual se alojavam um sem fim de aventureiros e tipos que desejam a glória do ouro, pessoas que atrás de si carregam toda a cultura de garimpo incluindo bordeis, açougues, mercados, atravessadores e capatazes. A vila permaneceu garimpo até meados dos anos 60, quando  atividade foi oficialmente proibida em toda a região e a criação do parque Nacional da Chapada dos Veadeiros aconteceu pelas mãos do então presidente Juscelino Kubitschek.  O local então passou pouco a pouco a ser mais conhecido pela sua riqueza turística e mística, crescendo cada vez mais ao longo dos anos. A maior das cachoeiras do Parque Nacional teve então seu nome trocado de Salto do Garimpão para Saltos do Rio Preto. Ainda hoje muitas das “catas” (buracos cavados por garimpeiros) estão visíveis nas trilhas do parque nacional, assim como fragmentos de cristais não recolhidos.

Ao que parece, Alto Paraíso foi das três a última das cidades a se tornar conhecida turisticamente. Sabe-se que o local inicialmente era uma fazenda onde se criavam cães de uma raça conhecida como Veadeiros. Nome que depois veio a ser usado para denominar a região. O verdadeiro crescimento de Alto Paraíso veio junto com a migração de um púbico que buscava refúgio na beleza mística do cerrado de altitude (mais de 1000 metros). As primeiras “comunidades” foram fundadas por migrantes hippies, por viajantes livres e por todos os tipos de sonhadores ainda no começo da década de 80. O nome da comunidade mais famosa era Alto do Paraíso. Por ali, porém sempre existiram povos tradicionais habitando as regiões do chamado Moinho. A cidade de Alto, dentre as três, tem mesmo uma história recente e curiosa atrelada a si, além de um inegável magnetismo para com questões espirituais. Até mesmo o seu relevo e a sua formação geológica parecem ser exóticas. A cidade fica circundada por montanhas e vales e rincões sagrados donde correm rios de águas cristalinas. Não raro vemos neblinas por ali escondendo os cumes dos morros. Ao longe é possível ver pastagens e relvas sobre as encostas que mais parecem as planícies druidas da Escócia antiga.

 

A essência destas primeiras comunidades ali se formaram ainda pode ser captada na atmosfera do lugar. Aos finais de semana existem feiras onde se pode vender e comprar alimentos orgânicos dos moradores que vivem afastados na área rural e que produzem seus alimentos e artesanatos. Pessoas que buscam uma vida mais plena e sua emancipação interior junto aos mistérios da natureza. Do outro lado da moeda, não é preciso muito esforço para perceber que o turismo trouxe consigo uma boa parte do que é típico em toda comercialização: a transformação de tudo em mercadoria.

 

Assim a cidade também tem se tornado cada vez mais comercialmente visada e junto com esse movimento o turismo místico apareceu, usando das energias primeiras do local. Entre comércios e restaurantes, entre pousadas e comunidades, a cidade tenta encontrar um balanço entre sua essência primeira e o comércio para seus visitantes, que não param nunca de atracarem por ali. 

 

 

 Atrativos mais famosos de cada cidade (cachoeiras)

 

Alto Paraíso:

Cataratas dos couros, Macaquinhos, Cachoeiras Almécegas, Loquinhas.

 

São Jorge:

Trilhas do Parque Nacional, Cachoeira do Segredo, Mirante da Janela

 

Cavalcante:

Cachoeira Santa Bárbara e povoado Engenho, Cachoeiras do Prata, Percurso Ponte de Pedra

 

 

Hospedagem e opções:

            A hospedagem que mais irá nos atender na Chapada tem a ver com o nosso perfil de viagens. A seguir deixo algumas ideias e opções que existem por aqui e que tenho visto disponíveis ao longo de todos esses anos.

 

 

Pousadas:

 A clássica opção das pousadas é o carro chefe da região. Mas, ao contrário de outros destinos “alternativos”, a região ainda consegue permanecer fiel à ideia de simplicidade que atrai a maioria daqueles que se mudam para cá.

Ainda continua fácil encontrar por aqui pousadas que oferecem muito, por não muito. Sabe? Lugares que são verdadeiras composições ornamentais feitos a partir dos sonhos de seus donos, pousadinhas aconchegantes e que ainda mantêm a sua estrita relação humana com o os hóspedes.  Esses são geralmente os recantos que foram construído aos poucos, ao longo de anos, por pessoas que para cá se mudaram e visam garantir a sobrevivência do dono e ao mesmo tempo dividir com o hóspede a essência da vida no lugar.

No geral são essas pousadas que recomendo para todos os que desejam passear por aqui. Afinal, Resorts, Spas, etc, ainda não combinam muito com a essência primeira do turismo no local, ao passo que a simplicidade rústica harmoniza-se muito mais com a região e faz com o que o visitante sinta-se em relação com a realidade local.

 

Hostels:
 

Nos últimos anos os Hosteis aumentarem muito na região e no geral seguem o mesmo modelo, porém aparecem em maior número nas cidades de Alto Paraíso e São Jorge. Da mesma forma, os donos de cada Hostel são por si só o seu melhor anfitrião na Chapada. Geralmente são conhecedores profundos da dinâmica do local, sabem dos preços. das trilhas, das “manhas e das manhãs” do local. E isso pode ser uma vantagem.

Um detalhe sobre os Hostels é o estilo que eles assumem em cidades ainda não tão turísticas como Cavalcante. Geralmente, se você ficar em algum hostel em Cavalcante vai encontrar um cenário bem tranquilo, pouca movimentação e acabará encontrando uma boa opção de acomodação. As pessoas em Cavalcante seguem ainda outro ritmo e  por estarem ainda menos frenéticas conseguem receber cada visitante de uma forma tremendamente singular. Há inclusive muitos deles cujos donos são mulheres e onde vejo uma recepção muito sensível ao público feminino. Algumas indicações em Cavalcante:

 

Hostel Magia da Lua

Hostel Casa de Mainha

Hostel do Caxueira

 

 

Airbnb:

          Estas são as modalidades mais recentes e a que mais crescem por aqui. Principalmente para dois tipos de grupos de viagem. Casais e famílias grandes que viajam juntos. Na região é extremamente fácil encontrar aluguéis pelos sites Booking e Airbnb.

Há muitas pessoas que usam do artifício de alugarem suas casas para complementar a sua renda mensal. São esses mesmo anfitriões que conseguem inclusive prestar uma recepção muito humanizada aos visitantes e ajudá-los com guias, passeios, horários, etc. Respeitando o perfil de cada um.

 

Na cidade de Cavalcante a opção pode ser uma ótima escolha atualmente, por conta das paisagens incríveis que por ali existem longe das grandes muvucas e por conta da criatividade de dos projetos de moradia. Há muitos moradores que dedicam muito tempo na tarefa de trabalharem suas casas de forma totalmente simples, nova e orgânica com o local.

 Em Cavalcante, espere de seus Airbnb muito acolhimento, projetos confortáveis porém simples de moradia e muita tranquilidade para a sua visita. Encontre nessa modalidade de estadia opções economicamente viáveis para duas pessoas e opções que podem atender até grupos de 14 pessoas, por exemplo.

 

Em Cavalcante para duas pessoas, sugiro:

 

Toca do Vento:


 Casa administrada pelo guia Gui Aroreira (instagram). Engenheiro Mecânico de formação, ele passa a maior parte de seu tempo livre desvendando maneiras de como transformar a sua casa em uma moradia simples, barata e eficiente, instalando engenharias de tecnologia limpa, de permacultura, de jardinagem e compostagem, etc.

 

Também é um guia muito dedicado e uma fonte de informações extremamente ponderadas e críticas acerca da Chapada. Também é dele a frase “A diferença entre gambiarra e engenharia é que a segunda pode ser reproduzida e sistematizada”.

 

 

Sítio Acauã:


Casa singular na parte mais afastada da cidade, criada e concebida pelo casal de biólogos e artistas Franz e Suzana.  A casa é feita de superadobe e tem o formato típico abobodal. Ou seja, ela não tem telhado e parece um grande ovo olhada por fora, toda feita de barro e desenhada a mão pode dentro. Fica dentro da chácara do casal aos pés da serra e pode ser um recanto de refúgio para quem deseja experimentar o estilo de vida que os dois escolheram para si.

 

Recanto do Beija Flor:

Um recanto criado pela esteticista e hoje aposentada Sônia, e que expressa toda a sua visão de mundo. Ao lado de sua casa, toda de Adobe e circundada por jardins, o local tem janelas muito grandes, churrasqueira e uma decoração bem rústica, fica numa parte de casinhas mais bucólicas, longe do centro da cidade (se é que algo pode ser mesmo longe em Cavalcante).

Fazenda Miraflores:

         

É um local administrado pelos uma vez paulistanos Ricardo e Fabi, e na verdade representa muito do que é a originalidade de Cavalcante em relação ao turismo.

 

O espaço é uma antiga propriedade ao estilo Casarão Colonial, mas que agora está sob a direção criativa do casal. Questões Históricas á parte, a casa realmente tem a sua beleza rodeada de imensos pés de manga e com uma cozinha de janelas 360 graus de onde se pode ver o gramado lá fora e os dentes pontiagudos das serras lá ao fundo.

 

Um detalhe curioso do local (e agora entra a parte desconstruída dos visitantes da chapada) é que o acesso à pousada/airbnb passa pelo Rio Bartolomeu, cujas águas nem sempre estão receptivas a deixarem passar carros baixos e as motos. Ainda não há ponte para os carros.

A solução fica sendo deixar o carro do lado de “cá” do rio e seguir a pé pela ponte “Indiana Jones” que só atravessa pedestres. São aquelas pontes feitas com cabos de aço e madeiras, como nos filmes. Não há roubos, nem assaltos e nem o pânico das cidades por ali, somente o silêncio do rio e das matas. Em vez de se tornar um empecilho o detalhe somente faz tornar o local mais especial.

 Há um silêncio muito raro na travessia, um mistério naquela pequena caminhada pela mata preservada nascida da fertilidade daquelas águas. Há também estrelas a noite que parecem brilhar mais que todo o firmamento. Ali próximo também fica a cachoeira do Cozido, pouco ou quase não visitada. No café da manhã a Fabiana dá amostras gastronômicas de seus conhecimentos sobre equilíbrio, vitalidade e leveza. Sempre que passo lá, roubo acerolas do pé ou uma daquelas mangas bem rosas e reparo no quão grandes são aquelas janelas, ou no quão elegante é aquela vitrola na sala de estar.

 

 

 

Para Grupos Grandes:

Casas da Lígia ou do Negão:

O negão é um daqueles sujeitos que estão sempre rindo e exalando o segredo da simplicidade. Seu chapéu também parece nunca se abalar com o vento, mesmo quando ele mete a cabeça para fora do uno vermelho na hora de cumprimentar quem passa. Ele possui também uma vasta gama de propriedades para alugar ou receber pessoas que se mudam para cá. Se você procura espaço para grupos grandes uma das suas casas pode ser uma opção. Algumas delas podem acomodar até 14 pessoas, pelo que eu já vi. E todas ficam fora da cidade, ao estilo chácaras, na parte sul da estrada de Cavalcante. No geral o estilo das casas é sempre rústico, construção de Adobe, varanda, sombras e áreas incríveis com vista para a parte de fora.

 

Chácara da Cris:

 Uma chácara um pouco mais afastada da cidade mas que foi totalmente redecorada e jardinada pela jovem proprietária e figura singular Cris Sangalo (também guia da Chapada). Para grupos grandes pode ser uma opção.

 

A casa tem estilo colonial só que mais popular. Ou seja, é o estilo mais Goiano de propriedade que não evoca tanto o poderio dos Coronéis, só que ela agora decorou tudo com mil e uma ideias e com jardins “fofo-coloridos” espalhados por todos os lados. O local virou um grande recanto de tranquilidade às margens do Rio Almas, um dos maiores que passa pela cidade.

 

Um detalhe da casa é a cozinha caipira com adicional de fogão de lenha e piso queimado em cor de vinho, como manda a tradição. Bem perto dali é possível acessar umas das mais belas e mansas praias do Rio Almas que eu já fui, totalmente inexplorada. As areias pegam a sombra de grandes árvores e as águas são verde cristalinas. Coisa rara.

 

 

Locomoção e passeios:

No sertão as distâncias são maiores e profundas, diria Guimarães Rosa. Então se você vem para a Chapada vai logo perceber aquela sensação de “ermo” e o Sol consternante assola as tardes cotidianas. Nesta hora parece que uma mera quadra pode tomar a longitude de léguas. Mas não se preocupe, isso vem da nossa inexperiência com o tempo natural das coisas. E também do fato de que as coisas na Chapada podem ser realmente mais ermas em comparação com o que estamos acostumados nas cidades. A sensação parece vir da falta de costume com ambientes mais abertos e naturais e no estranhamento das tardes ensolaradas.

Talvez para o nosso estilo atual de vida, para nossas exigências e perante a inépcia dos sistemas de transporte público, o carro seja ainda a opção ou a que mais pode nos proporcionar variedades e acesso na região. Seja na hora de alugar uma casa longe da cidade, ou na hora de carregar suas compras, ou no momento de visitar as cachoeiras a 30 km dali, você conseguirá vencer tudo isso com carros. E isso deixa as locadoras bem felizes.

Na região pode-se quase dizer que não há transporte público e para cidades como Cavalcante é impossível viajar de ônibus intermunicipais, pois eles simplesmente não existem. Isso mesmo! Será que você já viu uma cidade com rodoviária mas para a qual não parte nenhum ônibus ? Pois bem. Uma vez que consideramos que nossos visitantes têm apenas alguns dias para visitar o local e pouco conhecimento da região é difícil esperar que consigam se virar sem automóvel próprio.

 

Mas tudo é impossível até que se prove ao contrário. Viajantes de bike, caroneiros, motoqueiros passam por aqui aos milhares e conseguem aproveitar tudo à sua maneira. O seu segredo é manter as expectativas baixas e a flexibilidade alta.

Seguem então algumas ideias de transporte por aqui:

  1. Alugar um carro em alguma cidade grande mais próxima. Geralmente Brasília consegue ter as melhores tarifas. São menos de 300 km  até a chapada e o preço das diárias certamente será mais baixo dos que os fretes turísticos locais cobrados individualmente para leva-lo até um atrativo. Compensa.
     

  2. Se você não tem carro ou gosta de viajar sem um, então aventure-se de outra forma. A chapada comporta tudo e a solidariedade aqui ainda é altíssima. Nas pousadas é fácil formar grupos de passeios com pessoas que já tem carro. Você pode ir todos os dias aos Centro de Atendimento de Turistas e esperar por grupos que estejam indo para certos atrativos, é sempre possível agrupar É possível também contratar passeios com guias que possuem carros e os preços são geralmente tabelados para que não haja exploração, mas vale a pena checar o preço antes para evitar que ele fuja demais ao seu orçamento.
     

  3. Para os que curtem o estilo carona, a Chapada é altamente receptiva na modalidade. Você pode conseguir carona facilmente tanto de uma cidade para outra como para as cachoeiras, e ainda se sentirá amparado pela vasta gama de viajeiros que por aqui existem. A regra, porém ainda segue a mesma: go with the flow ou simplesmente ter muita paciência, flexibilidade e abertura para as conexões do universo.
     

  4. Viagens de bike são possíveis na chapada, porém as distâncias podem ficar um pouco altas quando consideramos os atrativos mais famosos ou quando há a necessidade de locomoção entre um atrativo e outro. Para a cachoeira dos couros, por exemplo você teria que pedalar quase 80 km de terra ida e volta, e na santa bárbara quase 50 km de muita subidas e serras. Mas se você ainda estiver partindo de uma outra cidade ainda terá de vencer o trajeto de asfalto. Para os viajantes de bike, a opção é ficar mesmo em uma só cidade e explorar as coisas por ali mesmo.

BOA VIAGEM!!


                       

 

 

 

 

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